ENTREMEIO (2020 - 2021)

Vivemos em uma sociedade saturada de imagens, que se proliferam e circulam em velocidade vertiginosa, sendo incessantemente substituídas por outras. A ingestão apressada de imagens não permite a demora e a contemplação.

Tudo é transitório e deve ser consumido e apreciado rapidamente. O tempo atual é ruidoso, fragmentado e destrói o silêncio.

A rápida alternância entre imagens torna impossível o fechar os olhos. Este pressupõe um demorar-se contemplativo. As imagens, hoje, são construídas de tal modo que não é mais possível fechar os olhos” (1).

Entremeio é um espaço entre o silêncio e o ruído. Um silêncio ruidoso ou um ruído silencioso. Um intervalo entre a imagem e a palavra, onde a palavra se desdobra em imagem e a imagem se desdobra em palavra. Um olhar para as pequenas coisas, já que “as coisas que não levam a nada têm grande importância” e “cada coisa ordinária é um elemento de estima”, como dizia o poeta Manoel de Barros (2).

As imagens são apresentadas como pequenas lascas, que surgem entre fissuras no meio dos dois extremos: o silêncio e o ruído, a imagem e a palavra.

(1) HAN, Byung-Chul. Favor fechar os olhos: em busca de outro tempo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021, p. 16.

(2) BARROS, Manoel. Matéria de Poesia. 1a. ed. Rio de Janeiro:Alfaguara, 2019.

Ficha técnica: fotografias e intervenções com pequenos objetos, pinturas e bordados.