DESCOMPASSO (2013 – …)
O ritmo da vida nas grandes cidades pulsa acelerado.
Descompasso nasce da tentativa de capturar esse ritmo frenético por meio de um conjunto de fotografias que retratam a cidade de São Paulo, onde vivo. As imagens foram capturadas do alto de edifícios e com uma câmera analógica, explorando sobreposições de imagens, realizadas no ato de fotografar, sem avançar o filme, com um dispositivo da própria câmera. Cada fotografia é composta por duas a quatro imagens, criando composições densas que refletem o caos da paisagem urbana.
Ao optar pelo filme e por fazer as sobreposições manualmente, a minha intenção era desacelerar. A fotografia analógica demanda tempo e atenção – você não consegue ver de imediato a imagem e a quantidade de cliques é limitada. No entanto, o acesso e a permanência no topo dos edifícios são restritos. Contraditoriamente, acabei acelerando o processo ao tentar capturar o máximo de fotos no breve espaço de tempo que era permitido permanecer em cada edifício. Ao invés de abrandar, a cidade impôs seu ritmo, em completo descompasso com o meu desejo de pausa. Em decorrência e como um gesto de desabafo, costurei à mão em uma das imagens os negativos descartados.
Desde 2017, sigo desenvolvendo o trabalho. Meu olhar agora se volta para o chão, com ênfase no confronto entre o verde e o concreto nas calçadas e ruas da cidade. Como busco o que está no solo, a câmera analógica se mostrou inadequada – as imagens surgem ao caminhar e nem sempre estou com ela. Isso me fez optar pelo smartphone, acreditando que facilitaria a captação das imagens. Entretanto, novamente a cidade impôs seu ritmo, em descompasso com o meu desejo e o projeto caminha a passos (ou compassos) lentos.
… trabalho em desenvolvimento.
Ficha técnica: fotografia analógica, impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão. Dimensões: variáveis, sendo a maior 145cm x 95cm, com margens de 2,5cm e as menores com 45cm, com margens de 2,5cm.