SEGUNDA PELE (2018 - 2022)
Fountainebleau, uma pequena cidade no interior da França, no início do ano de 2018 desenha a atmosfera inspiradora e as primeiras linhas da história deste trabalho. Dias silenciosos, azuis ou acinzentados, em um lugar no qual os instantes não competiam para um desfecho. Quase pausado, o tempo em Fountainebleau fez a artista visual Juliana Arruda imergir na aura da infância, um reencontro com as espessuras “do quando tudo corria demorado”.
Assim, dessa inspiração nasceram fotografias luminosas e densas, massas delicadas, por vezes espectrais, em seus duplos quase semelhantes. Fotografias, quase táteis, gêneses de imagens, emergiram como peles do fotográfico, arrancadas do profundo e obscuro das imagens de memória. Superfícies ora opacas e frágeis, ora rugosas e resistentes, romperam-se como aparições imersas numa ligadura de sentidos, emoções, desejos e interjeições.
Por sua vez, palavras-poemas alçaram as próprias fotografias e esparramam-se em linhas que se sucedem. Palavras que se abrem como notações poéticas no limite das páginas, sobre as quais descansam as imagens, convidam a um olhar abissal.
Em uma desordem lírica, imagens e palavras, realçadas pelas texturas calmas e ternas, nos carregam neste fotolivro para o tempo da doçura, da resistência, da ausência e das cicatrizes.
Convidam a esquecer onde estamos e a (des)habitar labirintos e outras peles entre linhas e fios que tecem pequenos reparos de perdas. Segunda Pele é este amálgama entre fotografias e poemas capaz de renovar histórias e genealogias como revelações sobre os tempos e as existências mínimas. É um olhar demorado que cultiva a poesia do silêncio como um gesto que vibra no contratempo dos sentidos anestesiados.
Fabiana Bruno